Autoestima e a vida diante do espelho! (Parte II)

No artigo Autoestima e a Vida Diante do Espelho (Parte I) – caso não tenha lido, clique aqui (recomendado) – falamos de como as nossas relações com a própria imagem e com o mundo à nossa volta são determinantes na autoestima, e de como essas relações, quase sempre, buscam a construção de um “Eu” que seja objeto do amor das pessoas que julgamos caras a nós.

Vimos, também, que a baixa autoestima é a representação de um sentimento de insuficiência ou não merecimento deste amor, e amor aqui é entendido como síntese de diversos outros sentimentos, tais como admiração, respeito, cuidado, reconhecimento, etc., tão necessários para nos sentirmos acolhidos e dignos de pertencimento social.

Daqui em diante, iniciaremos uma viagem pelos caminhos da percepção de si mesmo, e da busca por algumas ações que possam nos ajudar a elevar a autoestima. Devo alertar que não é uma viagem muito fácil e tranquila e, por isso, o que acham de chamarmos um guia? Pensei no nosso amigo Narciso. Ah, e não carreguem muita bagagem: “Deixe para trás suas ilusões. Elas são pesadas demais” (Harari, Yuval Noah, 2018, p. 330).

Narciso – Você já conhece um pouco sobre mim e a minha história, mas agora eu quero conhecer um pouco sobre você. Para isso, vou fazer algumas perguntas:

Primeira: A imagem que você quer ter de si mesmo e mostrar para os outros está construída sobre os seus desejos e valores, ou só tenta refletir as expectativas impostas pelos outros?

Para ajudá-lo a responder essa questão, eu sugiro o seguinte exercício: Pegue um papel e uma caneta e escreva quais são os seus valores mais significativos, aqueles que você não negocia, e tente se lembrar ou descobrir de onde eles vieram, quem os ensinou a você, e se estes valores estão alinhados com quem você deseja ser.

Faça o mesmo exercício listando suas crenças, tudo o que você acredita ser “verdade” sobre si mesmo, também se questione sobre quem as ensinou a você e se elas o ajudam ou atrapalham. Se identificar alguma crença sobre si mesmo que lhe cause mal-estar e o impeça de avançar nos seus propósitos, procure ajuda profissional, um bom terapeuta (psicólogo ou psicanalista) é sempre bem-vindo.

Em seguida, faça uma lista de todas as suas qualidades, aquilo que você reconhece em si mesmo como digno de ser admirado e amado. Pense nos detalhes, podem ser físicos ou não, mas seja generoso consigo, não precisa se achar sinônimo de perfeição (como eu, ao me admirar no lago), mas não aceite menos que 20 características. Se não encontrar, já sabe: procure ajuda terapêutica!

Feito isso, reflita sobre como você pode organizar sua vida a partir dos valores, crenças e qualidades que fazem sentido para você, e que compõem uma imagem mais honesta e generosa de si mesmo. Desista de organizar sua vida tentando cumprir o que esperam de você, até porque as outras pessoas também não sabem ao certo o que esperam de você, e livre-se da culpa por decepcioná-las.

Segunda: Quais são as experiências de vida que mais o aproximaram ou aproximam da imagem que deseja construir?

Faça um exercício de memória e tente se lembrar das ações ou momentos em que você sentiu maior satisfação consigo mesmo, experimentando um sentimento de grandeza e realização. Se não conseguir se lembrar ou nunca tiver tido uma experiência assim, considere a possibilidade de realizar um trabalho voluntário, colocando suas qualidades, valores e crenças a serviço de alguém que esteja precisando.

Inverta a lógica, não espere que as pessoas lhe  digam quem você deve ser, como deve agir ou o que deve fazer para ser aceito e amado, mas coloque quem você é, como age e o que sabe fazer para criar relações de afeto e cuidado.  Dedique seu tempo e sua energia para amar, ao invés de ficar tentando se moldar a algum tipo de padrão para poder ser amado.

Terceira: Como você sabe, eu dediquei minha vida e meu amor à minha própria imagem refletida no lago e, por isso, nunca consegui me relacionar com o meu objeto de desejo. E você, a quem ou a que você está dedicando sua atenção, seu tempo e seu amor?

Faça uma lista com os nomes das pessoas, coisas, ideias, planos, trabalho, aos quais você dedica sua vida, e reflita se eles realmente fazem sentido para você, se eles são objetos do teu desejo, ou se foram colocados ali como metas a serem atingidas a fim de receber algumas migalhas de atenção alheia.

Procure refletir sobre o que realmente importa para você, o que e quem realmente aumentam o seu ânimo de viver, seu estado de alegria e disposição, e dedique seu interesse e suas ações a elas.

Cuide de si (corpo e mente), atividades físicas regulares são um poderoso remédio para elevar a autoestima e afastar a depressão. Refine seus gostos e cultive o sabor das novas experiências. Viva o presente como um presente, um dia de cada vez. Leia bons livros que tragam reflexão e boas histórias. E, principalmente, se puder, faça algum tipo de terapia psicológica. Acredite: não é coisa de gente doida!

Cultive o bom humor e preserve a graça – alegria gratuita que não depende de merecimento“A graça oferece permissão para dançar, independentemente do que os outros pensem ou julguem”(Nilton Bonder: Cabalah e a Arte da Preservação da Alegria).

E, assim, nos despedimos do nosso guia Narciso, que ao final de sua história mitológica, se transformou em uma flor. Essa flor habita a alma de todos nós, fazendo com que sempre tenhamos o desejo de sermos contemplados e amados. Finalizo este artigo com a receita mais eficaz para que isso aconteça:

“O segredo é não cuidar das borboletas e sim cuidar do jardim para que elas venham até você. No final das contas, você vai achar não quem você estava procurando, mas quem estava procurando por você!”  (Mario Quintana).

Deixe aqui nos comentários: como você está cuidando do seu jardim?

Redação por: Rodrigo César Rondini, Coach e Analista Comportamental, com formação “Master” pela Sociedade Latino-Americana de Coaching; Tecnólogo em Processos Gerenciais, com formação pela FGV – Fundação Getúlio Vargas; Contabilista, Consultor e sócio-diretor da Mazzola Contabilidade Assessoria Empresarial. Revisão por: Pedro Paulo Gomes Ribeiro, processo Administração de Pessoal da Mazzola Contabilidade. Bacharel em Linguística, com especialização em Português e Espanhol pela Universidade de São Paulo.

Autoestima e a vida diante do espelho! (Parte I)

Os gregos antigos utilizavam um conjunto de narrativas para contar histórias de seus heróis, deuses, semideuses, e vários outros personagens que chegaram até nossos dias naquilo que conhecemos como Mitologia. Um desses personagens famosos é Narciso – um jovem e belo rapaz que, ao ver seu rosto refletido nas águas cristalinas de um lago, apaixonou-se por sua própria imagem, e a partir de então, tomado pela vaidade, tornou-se incapaz de dirigir seu amor a qualquer outro ser e, na impossibilidade de alcançar e tomar para si sua própria imagem como objeto de desejo, acabou definhando e morrendo.

Quero aqui, de forma bastante modesta, desenvolver uma reflexão acerca das nossas experiências contemporâneas com a nossa própria imagem, e com as imagens pelas quais nos apaixonamos e fixamos como ideais a serem alcançados.

Nestes tempos de isolamento social causado pela Covid19, as modalidades de home office e ensino a distância, mas não só por isso – as redes sociais já vinham nos impondo uma nova relação com a própria imagem – nossa existência se passa diante do espelho, e ao nos depararmos com a nossa imagem refletida, agora não mais nas águas cristalinas, mas sim, nas telas dos nossos smartphones, tablets e computadores, nem sempre nos encantamos pelo que vemos.

Sobressalta aos nossos olhos alguns quilos a mais ou a menos, uma ruga que não estava ali no dia anterior, os cabelos brancos que antes eram escondidos pelo talento das profissionais de beleza e agora parecem se multiplicar a cada segundo, sem contar o impacto que sofremos ao não reconhecermos nossa própria voz naquele áudio ou vídeo que temos que gravar para facilitar a comunicação.

Enquanto isso, somos bombardeados por conteúdos midiáticos que nos dizem quem são e quais são os padrões de beleza, de felicidade, de sucesso, de inteligência, de riqueza, e tudo que você possa imaginar que desperte nosso desejo de realização e fixe em nós um ideal a ser conquistado.

Aqui entra em cena uma figura conhecida de todos nós: a autoestima, que pode ser entendida como uma percepção de si, ou um sentimento de si, e que varia em sua medida de acordo com o nível de satisfação que cada um encontra com o seu “eu” em relação ao “ideal de eu” que cada um constrói no seu imaginário.

Todos nós temos os nossos ideais, nossos ídolos e heróis, nossas referências de valor que nos guiam. Mas, assim como Narciso jamais pôde alcançar a sua imagem ideal refletida no lago, talvez nós jamais nos apossaremos dos nossos ideais, e deveria estar tudo bem. No fundo, nossos ideais não são mesmos para serem conquistados, mas um farol que ilumina os caminhos de nossa existência.

O mito de Narciso ganhou seu espaço na psicanálise desenvolvida por Freud (embora seja um conceito bastante complexo que não cabe adentrarmos aqui), e chega na nossa cultura como uma forma patológica de se relacionar com a própria imagem: o Narcisismo. Nesse sentido podemos generalizar que vivemos em uma sociedade narcisista, e essa ideia ganha corpo ao nos darmos conta do quanto nos empenhamos em buscarmos a selfie perfeita, que represente aquilo que gostaríamos de ser, e para isso não faltam recursos tecnológicos (o Photoshop é a fonte da juventude moderna! Será?).

Mas engana-se quem acredita que o narcisista está somente olhando para si, e apaixonado por si mesmo não teria interesse pelo mundo a sua volta. No fundo, o desejo de todos é ser desejado pelo outro, e, partindo dessa premissa, nos esforçamos para atender o que acreditamos ser aquilo que o outro deseja que nós somos. Quer uma prova dessa verdade? Quantas vezes você postou uma foto no Facebook ou Instagram e não ficou tenso para ver os comentários e curtidas? Não há nenhum mal nisso. Não nos é dada a opção de vivermos sem a necessidade do olhar do outro, do reconhecimento e amor do outro! O problema é quando não nos achamos suficientemente competentes, bons, bonitos e inteligentes para merecer o amor desse outro (pode ser pai, mãe, namorado ou namorada, marido ou esposa, chefe, colega de trabalho, sociedade etc.). Quando isso acontece, podemos dizer que nossa autoestima está baixa.

Viver em uma sociedade onde, a cada dia, nos é exigido sermos mais e melhores tem gerado um grande mal-estar psíquico, levando a um dos sintomas mais agudos do nosso tempo: a depressão.

Quando não nos julgamos capazes de atender as expectativas, nossas e dos outros, passamos a recuar diante de nossos desejos e inibir nossas ações, levando a uma perda de vontade e animo para agir, e consequentemente perdemos a vontade de viver (esse é o quadro básico da depressão).

Vida é movimento, é ação, é transformação. Para viver bem é preciso ter coragem de se olhar, aceitar aquilo que não pode ser de outra forma, mas também lutar e se esforçar para se tornar aquilo que nossos desejos nos permitem, encarar os desafios, e principalmente manter a alegria e a generosidade ao contemplar-se a si mesmo, “A alegria que se origina da contemplação de nós mesmos chama-se Amor-próprio ou Contentamento consigo mesmo” (Espinosa; Baruch, 1677, ÉTICA, Parte Terceira – Origem e Natureza dos afetos), porque a alegria não depende de sermos mais e melhores do que somos, mas sim de nos aventurarmos nesta jornada única que chamamos de vida.

Gostou deste artigo? Como anda sua autoestima? Deixe seus comentários aqui embaixo.

No próximo artigo: Autoestima e a vida diante do espelho! (Parte II) falaremos sobre os caminhos para termos uma melhor percepção de si, da alegria, e de algumas ações essenciais para melhorar a autoestima e elevar o potencial de ação e interação na vida. Não percam!

Redação por: Rodrigo César Rondini, Coach e Analista Comportamental, com formação “Master” pela Sociedade Latino-Americana de Coaching; Tecnólogo em Processos Gerenciais, com formação pela FGV – Fundação Getúlio Vargas; Contabilista, Consultor e sócio-diretor da Mazzola Contabilidade Assessoria Empresarial. Revisão por: Daiane Alegro Guido, processo Financeiro da Mazzola Contabilidade. Graduação em Ciências Contábeis pela Anhanguera, e Pós Graduação em Controladoria e Finanças pelo SENAC.