Autoestima e a vida diante do espelho! (Parte I)

Os gregos antigos utilizavam um conjunto de narrativas para contar histórias de seus heróis, deuses, semideuses, e vários outros personagens que chegaram até nossos dias naquilo que conhecemos como Mitologia. Um desses personagens famosos é Narciso – um jovem e belo rapaz que, ao ver seu rosto refletido nas águas cristalinas de um lago, apaixonou-se por sua própria imagem, e a partir de então, tomado pela vaidade, tornou-se incapaz de dirigir seu amor a qualquer outro ser e, na impossibilidade de alcançar e tomar para si sua própria imagem como objeto de desejo, acabou definhando e morrendo.

Quero aqui, de forma bastante modesta, desenvolver uma reflexão acerca das nossas experiências contemporâneas com a nossa própria imagem, e com as imagens pelas quais nos apaixonamos e fixamos como ideais a serem alcançados.

Nestes tempos de isolamento social causado pela Covid19, as modalidades de home office e ensino a distância, mas não só por isso – as redes sociais já vinham nos impondo uma nova relação com a própria imagem – nossa existência se passa diante do espelho, e ao nos depararmos com a nossa imagem refletida, agora não mais nas águas cristalinas, mas sim, nas telas dos nossos smartphones, tablets e computadores, nem sempre nos encantamos pelo que vemos.

Sobressalta aos nossos olhos alguns quilos a mais ou a menos, uma ruga que não estava ali no dia anterior, os cabelos brancos que antes eram escondidos pelo talento das profissionais de beleza e agora parecem se multiplicar a cada segundo, sem contar o impacto que sofremos ao não reconhecermos nossa própria voz naquele áudio ou vídeo que temos que gravar para facilitar a comunicação.

Enquanto isso, somos bombardeados por conteúdos midiáticos que nos dizem quem são e quais são os padrões de beleza, de felicidade, de sucesso, de inteligência, de riqueza, e tudo que você possa imaginar que desperte nosso desejo de realização e fixe em nós um ideal a ser conquistado.

Aqui entra em cena uma figura conhecida de todos nós: a autoestima, que pode ser entendida como uma percepção de si, ou um sentimento de si, e que varia em sua medida de acordo com o nível de satisfação que cada um encontra com o seu “eu” em relação ao “ideal de eu” que cada um constrói no seu imaginário.

Todos nós temos os nossos ideais, nossos ídolos e heróis, nossas referências de valor que nos guiam. Mas, assim como Narciso jamais pôde alcançar a sua imagem ideal refletida no lago, talvez nós jamais nos apossaremos dos nossos ideais, e deveria estar tudo bem. No fundo, nossos ideais não são mesmos para serem conquistados, mas um farol que ilumina os caminhos de nossa existência.

O mito de Narciso ganhou seu espaço na psicanálise desenvolvida por Freud (embora seja um conceito bastante complexo que não cabe adentrarmos aqui), e chega na nossa cultura como uma forma patológica de se relacionar com a própria imagem: o Narcisismo. Nesse sentido podemos generalizar que vivemos em uma sociedade narcisista, e essa ideia ganha corpo ao nos darmos conta do quanto nos empenhamos em buscarmos a selfie perfeita, que represente aquilo que gostaríamos de ser, e para isso não faltam recursos tecnológicos (o Photoshop é a fonte da juventude moderna! Será?).

Mas engana-se quem acredita que o narcisista está somente olhando para si, e apaixonado por si mesmo não teria interesse pelo mundo a sua volta. No fundo, o desejo de todos é ser desejado pelo outro, e, partindo dessa premissa, nos esforçamos para atender o que acreditamos ser aquilo que o outro deseja que nós somos. Quer uma prova dessa verdade? Quantas vezes você postou uma foto no Facebook ou Instagram e não ficou tenso para ver os comentários e curtidas? Não há nenhum mal nisso. Não nos é dada a opção de vivermos sem a necessidade do olhar do outro, do reconhecimento e amor do outro! O problema é quando não nos achamos suficientemente competentes, bons, bonitos e inteligentes para merecer o amor desse outro (pode ser pai, mãe, namorado ou namorada, marido ou esposa, chefe, colega de trabalho, sociedade etc.). Quando isso acontece, podemos dizer que nossa autoestima está baixa.

Viver em uma sociedade onde, a cada dia, nos é exigido sermos mais e melhores tem gerado um grande mal-estar psíquico, levando a um dos sintomas mais agudos do nosso tempo: a depressão.

Quando não nos julgamos capazes de atender as expectativas, nossas e dos outros, passamos a recuar diante de nossos desejos e inibir nossas ações, levando a uma perda de vontade e animo para agir, e consequentemente perdemos a vontade de viver (esse é o quadro básico da depressão).

Vida é movimento, é ação, é transformação. Para viver bem é preciso ter coragem de se olhar, aceitar aquilo que não pode ser de outra forma, mas também lutar e se esforçar para se tornar aquilo que nossos desejos nos permitem, encarar os desafios, e principalmente manter a alegria e a generosidade ao contemplar-se a si mesmo, “A alegria que se origina da contemplação de nós mesmos chama-se Amor-próprio ou Contentamento consigo mesmo” (Espinosa; Baruch, 1677, ÉTICA, Parte Terceira – Origem e Natureza dos afetos), porque a alegria não depende de sermos mais e melhores do que somos, mas sim de nos aventurarmos nesta jornada única que chamamos de vida.

Gostou deste artigo? Como anda sua autoestima? Deixe seus comentários aqui embaixo.

No próximo artigo: Autoestima e a vida diante do espelho! (Parte II) falaremos sobre os caminhos para termos uma melhor percepção de si, da alegria, e de algumas ações essenciais para melhorar a autoestima e elevar o potencial de ação e interação na vida. Não percam!

Redação por: Rodrigo César Rondini, Coach e Analista Comportamental, com formação “Master” pela Sociedade Latino-Americana de Coaching; Tecnólogo em Processos Gerenciais, com formação pela FGV – Fundação Getúlio Vargas; Contabilista, Consultor e sócio-diretor da Mazzola Contabilidade Assessoria Empresarial. Revisão por: Daiane Alegro Guido, processo Financeiro da Mazzola Contabilidade. Graduação em Ciências Contábeis pela Anhanguera, e Pós Graduação em Controladoria e Finanças pelo SENAC.

4 Competências para o Século XXI

O ano é 2020, e como todo ano também começou com muitas expectativas, planos, sonhos, viagens marcadas e malas quase prontas, e com a certeza de que nada poderia impedir a realização dos objetivos, afinal de contas, basta você se esforçar que tudo dá certo, não é mesmo?

Acontece que a vida é rara, e não cabe na frieza dos nossos calendários e tampouco nos delírios de previsão e controle do futuro. Como quem não quer nada, um inimigo invisível chamado Corona Vírus nos faz despertar para a única verdade possível e inquestionável – “Nada existe de permanente a não ser a mudança” (Heráclito de Éfeso), e, como num passe de mágica todos os planos desapareceram e o que se tem a fazer é ficar em casa, se protegendo e protegendo as pessoas da nossa possível presença contagiosa.

Ficar em casa significa ainda a oportunidade de uma nova forma de existência. Desenvolver novos hábitos, estudar algo diferente, aprender usar plataformas digitais, lives que pipocam em nossas redes sociais e cursos livres e gratuitos que são oferecidos aos montes, enfim, nunca tivemos tanta informação disponível, tudo ali, ao alcance das nossas mãos, bastando ter um smartphone e uma conexão de internet.

Mas em minha cabeça ecoam perguntas que advêm de um livro recentemente lido, e que vale a pena tentar respondê-las. De acordo com Israelense Yuval Noah Harari (2018):

Qual é a coisa certa a fazer ao enfrentar uma situação totalmente sem precedentes? Como você deve agir quando estiver inundado por enormes quantidades de informação e não houver meios de absorvê-la e analisá-la? Como viver num mundo em que uma profunda incerteza não é um bug, e sim uma característica?

Estas perguntas foram feitas pelo Historiador e Escritor Israelense Yuval Noah Harari em seu livro 21 lições para o século 21 (2018), justamente na lição que trata sobre educação (Capítulo 19), onde o próprio Harari nos dá as pistas sobre o que devemos aprender para tentar responder a estas três grandes questões e enfrentar com dignidade os desafios deste século.

As pistas que Harari aponta vêm dos estudos realizados e teorizados pela professora e estudiosa americana Cathy N. Davidson em sua obra The New Education: How to Revolutionize the University to Prepare Students for a World In Flux (2017) que propõe como alternativa de solução o ensino dos 4 “Cs”, a saber: Pensamento Crítico; Comunicação; Colaboração e Criatividade.

Passamos agora a explorar de forma sintética estas quatro competências que prometem nos tornar mais aptos a conquistar um lugar ao sol, mesmo que pela janela, neste século.

Pensamento crítico – O pensamento crítico é o oposto do pensamento impulsivo e automático. Ele se caracteriza pela capacidade de reflexão, interpretação de informações, tomada de conclusões a partir de uma formulação criteriosa e metodológica dos dados, é pensar sobre como formamos opiniões, analisar nossas crenças e questionar nossos próprios pontos de vista. É um exercício diário de desenvolvimento da capacidade cognitiva, e da capacidade de fazer perguntas que nos levem ao cerne das questões, que se dá através de práticas intelectuais como leitura, interesses por temas diversos, participação em grupos de estudos, diálogos com pessoas que pensam diferente, jogos e práticas de raciocínio lógico etc.;

Comunicação – A comunicação é algo que transcende os símbolos da linguagem, e deve ser encarada como uma construção multidisciplinar que envolve o corpo, a fala, os gestos, a cultura, o ambiente, o contexto, e inclusive, o silêncio. Uma boa comunicação é algo bastante complexo e com poucas chances de serem conquistadas sem um esforço gigantesco de aprendizado e auto-observação. A comunicação deve identificar e contemplar as necessidades e sentimentos dos envolvidos. Vale recomendar a leitura do livro Comunicação Não-Violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais (Marshall Rosenberg);

Colaboração –  Colaborar sempre foi a grande ferramenta humana para a sobrevivência e a evolução da espécie, e pode ser representada pela capacidade de compartilhar valores e crenças, de pensar no coletivo e aceitar as vulnerabilidades de cada indivíduo ou grupo, de gerar ideias conjuntamente, de viver em rede priorizando a influência em detrimento ao poder. Recomendo uma obra infantil (que todo adulto deve ler) do autor Pedro Sarmento Ubuntu – Eu Sou Porque Nós Somos.

Criatividade – Ser criativo é uma característica da espécie humana, e nem precisamos ser grandes historiadores ou antropólogos para saber disso, basta pensar na música, nas artes, na linguagem, na roda do seu carro, naquele brigadeiro que você comeu durante a quarentena, ou até mesmo no prendedor de roupas que você usa para secar a sua máscara recém lavada. Para todos os lados e com todos os sentidos, somos inundados por criações humanas, e vale ressaltar, que ser criativo sempre nos tirou de enrascadas, seja para superar uma crise econômica dos dias atuais ou para não virar comida de leão na era das cavernas. Quer ser mais criativo? Se permita brincar, imaginar, experimentar, cultive seus sentidos, refine seus gostos, faça conexões de coisas e assuntos aparentemente sem nexo, acolha ideias malucas, leia poesia, e estimule pensamentos metafóricos como esta pérola de Millôr Fernandes “Entre o riso e a lágrima há apenas o nariz”.

Talvez estas competências não sejam suficientes para atravessarmos o deserto do desconhecido e da incerteza, mas certamente podem nos ajudar a vislumbrar um oásis no meio da tempestade de informações irrelevantes, fake news e conteúdos descartáveis que agridem nossos sentidos e nos fazem perder a direção.

O que achou deste artigo? Qual a relevância destas competências para a sua carreira e para sua vida? Quais outras competências você acrescentaria nesta lista como essenciais para o Século XXI? Deixe seus comentários aqui embaixo, vamos compartilhar nossas experiências e conhecimentos.

Por: Rodrigo César Rondini, Sócio da Mazzola Contabilidade (Redação) e Daiane Alegro Guido, Analista Financeiro da Mazzola Contabilidade (Revisão)