O ano é 2020, e como todo ano também começou com muitas expectativas, planos, sonhos, viagens marcadas e malas quase prontas, e com a certeza de que nada poderia impedir a realização dos objetivos, afinal de contas, basta você se esforçar que tudo dá certo, não é mesmo?
Acontece que a vida é rara, e não cabe na frieza dos nossos calendários e tampouco nos delírios de previsão e controle do futuro. Como quem não quer nada, um inimigo invisível chamado Corona Vírus nos faz despertar para a única verdade possível e inquestionável – “Nada existe de permanente a não ser a mudança” (Heráclito de Éfeso), e, como num passe de mágica todos os planos desapareceram e o que se tem a fazer é ficar em casa, se protegendo e protegendo as pessoas da nossa possível presença contagiosa.
Ficar em casa significa ainda a oportunidade de uma nova forma de existência. Desenvolver novos hábitos, estudar algo diferente, aprender usar plataformas digitais, lives que pipocam em nossas redes sociais e cursos livres e gratuitos que são oferecidos aos montes, enfim, nunca tivemos tanta informação disponível, tudo ali, ao alcance das nossas mãos, bastando ter um smartphone e uma conexão de internet.
Mas em minha cabeça ecoam perguntas que advêm de um livro recentemente lido, e que vale a pena tentar respondê-las. De acordo com Israelense Yuval Noah Harari (2018):
Qual é a coisa certa a fazer ao enfrentar uma situação totalmente sem precedentes? Como você deve agir quando estiver inundado por enormes quantidades de informação e não houver meios de absorvê-la e analisá-la? Como viver num mundo em que uma profunda incerteza não é um bug, e sim uma característica?
Estas perguntas foram feitas pelo Historiador e Escritor Israelense Yuval Noah Harari em seu livro 21 lições para o século 21 (2018), justamente na lição que trata sobre educação (Capítulo 19), onde o próprio Harari nos dá as pistas sobre o que devemos aprender para tentar responder a estas três grandes questões e enfrentar com dignidade os desafios deste século.
As pistas que Harari aponta vêm dos estudos realizados e teorizados pela professora e estudiosa americana Cathy N. Davidson em sua obra The New Education: How to Revolutionize the University to Prepare Students for a World In Flux (2017) que propõe como alternativa de solução o ensino dos 4 “Cs”, a saber: Pensamento Crítico; Comunicação; Colaboração e Criatividade.
Passamos agora a explorar de forma sintética estas quatro competências que prometem nos tornar mais aptos a conquistar um lugar ao sol, mesmo que pela janela, neste século.
Pensamento crítico – O pensamento crítico é o oposto do pensamento impulsivo e automático. Ele se caracteriza pela capacidade de reflexão, interpretação de informações, tomada de conclusões a partir de uma formulação criteriosa e metodológica dos dados, é pensar sobre como formamos opiniões, analisar nossas crenças e questionar nossos próprios pontos de vista. É um exercício diário de desenvolvimento da capacidade cognitiva, e da capacidade de fazer perguntas que nos levem ao cerne das questões, que se dá através de práticas intelectuais como leitura, interesses por temas diversos, participação em grupos de estudos, diálogos com pessoas que pensam diferente, jogos e práticas de raciocínio lógico etc.;
Comunicação – A comunicação é algo que transcende os símbolos da linguagem, e deve ser encarada como uma construção multidisciplinar que envolve o corpo, a fala, os gestos, a cultura, o ambiente, o contexto, e inclusive, o silêncio. Uma boa comunicação é algo bastante complexo e com poucas chances de serem conquistadas sem um esforço gigantesco de aprendizado e auto-observação. A comunicação deve identificar e contemplar as necessidades e sentimentos dos envolvidos. Vale recomendar a leitura do livro Comunicação Não-Violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos pessoais e profissionais (Marshall Rosenberg);
Colaboração – Colaborar sempre foi a grande ferramenta humana para a sobrevivência e a evolução da espécie, e pode ser representada pela capacidade de compartilhar valores e crenças, de pensar no coletivo e aceitar as vulnerabilidades de cada indivíduo ou grupo, de gerar ideias conjuntamente, de viver em rede priorizando a influência em detrimento ao poder. Recomendo uma obra infantil (que todo adulto deve ler) do autor Pedro Sarmento Ubuntu – Eu Sou Porque Nós Somos.
Criatividade – Ser criativo é uma característica da espécie humana, e nem precisamos ser grandes historiadores ou antropólogos para saber disso, basta pensar na música, nas artes, na linguagem, na roda do seu carro, naquele brigadeiro que você comeu durante a quarentena, ou até mesmo no prendedor de roupas que você usa para secar a sua máscara recém lavada. Para todos os lados e com todos os sentidos, somos inundados por criações humanas, e vale ressaltar, que ser criativo sempre nos tirou de enrascadas, seja para superar uma crise econômica dos dias atuais ou para não virar comida de leão na era das cavernas. Quer ser mais criativo? Se permita brincar, imaginar, experimentar, cultive seus sentidos, refine seus gostos, faça conexões de coisas e assuntos aparentemente sem nexo, acolha ideias malucas, leia poesia, e estimule pensamentos metafóricos como esta pérola de Millôr Fernandes “Entre o riso e a lágrima há apenas o nariz”.
Talvez estas competências não sejam suficientes para atravessarmos o deserto do desconhecido e da incerteza, mas certamente podem nos ajudar a vislumbrar um oásis no meio da tempestade de informações irrelevantes, fake news e conteúdos descartáveis que agridem nossos sentidos e nos fazem perder a direção.
O que achou deste artigo? Qual a relevância destas competências para a sua carreira e para sua vida? Quais outras competências você acrescentaria nesta lista como essenciais para o Século XXI? Deixe seus comentários aqui embaixo, vamos compartilhar nossas experiências e conhecimentos.
Por: Rodrigo César Rondini, Sócio da Mazzola Contabilidade (Redação) e Daiane Alegro Guido, Analista Financeiro da Mazzola Contabilidade (Revisão)
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